Guilherme Fiuza
O mosqueteiro Dartagnol Foratemer(Procurador Deltan Dallagnol) segue firme em sua turnê
contra os políticos para virar político. Ele tem visitado essas paróquias de
gente alegre e socialmente engajada nas suas causas particulares. É um teatro
bonito de se ver. Mas nem tudo é alegria.
No meio da festa, sobreveio a tragédia: Rodrigo Enganot(Rodrigo janot), ídolo de Dartagnol na arte de fazer política fingindo fazer
justiça, caiu de cara no chão. O açougueiro biônico do PT(Joesley Batista), com quem Enganot combinou a derrubada do governo com um
peteleco, divulgou sem querer a trama toda. Enviou por engano às autoridades
investigativas a gravação da confissão bêbada. A sorte foi que o Brasil também
devia estar embriagado, porque não entendeu o enredo. Tanto que Rodrigo Enganot
saiu disparando as flechas cenográficas contra a própria trama que o envolve —
e o país, incrivelmente, continuou assistindo-o brincar de justiceiro.
Os
companheiros do açougue acabaram presos — frustrando a vida de reis que Enganot
lhes dera de bandeja, ao assinar a fuga mais obscena da história policial
brasileira. Os maiores corruptores da República, inventados por Lula com o seu
dinheiro, prezado leitor, tinham ido torrar a fortuna em Nova York, com a
bênção do Robin Hood de botequim. O pequeno pedaço de Brasil que não tinha
tomado todas já sabia de tudo: o braço-direito do conspirador-geral tinha
pulado a cerca para montar a delação da felicidade — na qual os açougueiros
biônicos dariam de presente a Enganot e grande elenco petista a volta ao poder
central.
Mas
o maior pecado que um meliante pode cometer é correr para o abraço antes da
hora.
Deu
tudo errado, e aí a vadiagem jurídico-intelectual das denúncias de Enganot foi
definitivamente esclarecida: tratava-se de esquetes montadas com alguns dos
maiores pilantras do pedaço, na base do “diz que te disseram isso”, “conta que
você ouviu aquilo” etc. — não para investigar o mordomo a sério (ele agradece),
mas para arrancá-lo do palácio no grito. Enfim, dois documentos que você não
deveria deixar de ler na íntegra, prezado leitor, para entender até onde pôde
ir a avacalhação das instituições mais altas deste país. Não aceite
intermediários.
Deixemos
de lado a salvaguarda hedionda dos supremos companheiros — e do ministro
Facinho em particular — à ligeireza de Enganot. Fiquemos apenas na prostituição
da Lava-Jato, usada como lastro moral para essa jogada — e aí estamos de volta
à turnê purificadora de Dartagnol Foratemer. Naturalmente, honrando o
sobrenome, este diligente, onipresente e multifalante mosqueteiro da República
não viu nada, não ouviu nada, não soube de nada dessa operação insólita que
levou o bravo Ministério Público a fazer fronteira com o pasto.
Enquanto
os caubóis made in BNDES declamavam bêbados sua intimidade com o
conspirador-geral, Dartagnol prosseguia, radicado em outro planeta, lapidando
seu discurso de agradar MPB. Definitivamente, o escândalo da delação da cúpula
da JBS não aconteceu no mesmo mundo do jovem mosqueteiro. Depois de fazer
história na Lava-Jato, Dartagnol virou uma espécie de Molon subtropical — um
plantonista da narrativa antigovernamental, intrépido caçador de manchetes. Até
pitaco (errado) em política fiscal andou dando, enquanto a tal corrupção que
ele combate tinha seu escândalo mais obsceno no distante planeta Terra.
Por
uma ironia atroz, Dartagnol Foratemer resolveu ser político se aliando aos
simpatizantes da quadrilha que ele ajudou a desmascarar. É assim mesmo: quem
quiser jogar para a plateia hoje em dia precisa ser abençoado pelos cafetões da
bondade — esses que fingem com esmero ter um sonho igualitário de esquerda,
enquanto vão recolhendo seus dividendos particulares. Igreja é igreja.
O
plano do golpe de Rodrigo Enganot parecia infalível para essas mentes simples,
que sonharam liderar a manada disparando frases de efeito contra o inimigo
imaginário, fascista, branco e demais clichês opressores à disposição na
butique da nostalgia revolucionária. Só faltou combinar com a realidade, essa
entidade reacionária.
NELA,
À PARTE A QUEDA DA MÁSCARA DO CONSPIRADOR-GERAL, A BOLSA DE VALORES ESTÁ
BATENDO RECORDE, A INFLAÇÃO E OS JUROS ESTÃO DESPENCANDO JUNTO COM O RISCO
PAÍS, O EMPREGO ESTÁ VOLTANDO, E A VIDA DAS PESSOAS COMUNS VAI MELHORAR — O QUE
SERÁ TERRÍVEL: ESSA GENTE ALEGRE QUE VIVE DE CONTAR HISTÓRIA TRISTE VAI FICAR
FALANDO SOZINHA. TEM MAIS FLECHA AÍ NO BOTEQUIM, COMPANHEIRO ENGANOT?
Eles
são brasileiros e não desistem nunca. Tem até um senador fofinho que puxa saco
de celebridade tentando melar a CPI da JBS — no exato momento em que a CPI vai
ao FBI para fechar o cerco contra os companheiros açougueiros do bem. Veja onde
a bondade foi parar, prezado leitor. Desse jeito, vai acabar dividindo cela com
o filho do Brasil.
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