Maurício Assuero
Acredito que o PT tenha sido o partido de oposição mais ferrenho que já existiu no Brasil. Lembro-me da expulsão de Bete Mendes, atriz que era deputada pelo PT – RJ, porque voltou em Tancredo Neves no colégio eleitoral. Em 1992, o PT expulsão uma das suas várias correntes, chamada Convergência Socialista que gerou o PSTU, mas o que é mais marcante foi a expulsão de Heloísa Helena, o deputado Babá, Luciana Genro e o deputado João Fontes (SE). Todos criticaram a política econômica do governo Lula (Palocci era o Ministro da Fazenda) e esta ação levou HH às lágrimas. Uma cena antológica é Lula conversando com Heloísa Helena para ela votar a favor da aprovação de Meirelles para o Banco Central. No caso dos três primeiros houve um processo, um debate, uma votação. No caso do último a expulsão foi sumária e tudo porque João Fontes divulgou um discurso no qual Lula defendia, nos idos anos 1980, posições contrárias aquelas adotadas pelo seu governo.
Pregar uma coisa e mudar de acordo com a maré é uma prática normal do político. É como comentarista de futebol que critica o time exaustivamente até o momento do gol. Depois disso é só elogios, mesmo o gol sendo contra. Então, numa primeira análise, a postura que afastou históricos contrários ao PT-governo e bem distantes do PT-oposição, mostra uma ruptura no discurso e depois com a constatação de que jamais chegaria ao poder sem coligações, o PT se vendeu aos corruptos da vez que negociavam apoio em troca de propina.
Cabe lembrar que Sérgio Moro perguntou a Lula se ele tinha usado a influência dele no PT para apurar os desvios e ele respondeu que não, que o MP achava que ele tinha influência porque não conhecia o PT. Hoje, preso, integrantes do PT sofrem as decisões tomadas por Lula. Primeiro, o senador petista José Pimentel foi defenestrado no Ceará onde o partido optou por apoiar Eunício Oliveira que, até um dia desses, era chamado de golpista. Em outros estados petistas e golpistas estão de mãos dadas.
O caso mais intenso, talvez, tenha sido visto em Pernambuco onde a candidatura de Marília Arraes foi implodida com o apoio do PT ao PSB somente para que este não se coligasse com Ciro Gomes. De uma tacada só lascou dois nomes, dois aliados. Tudo isso para garantir, também, a candidatura de Humberto Costa ao senado, que dificilmente será eleito. A candidatura de Marília tinha reais condições de chegar ao segundo turno porque tecnicamente ela estava empatada com o atual governador e com o senador Armando Monteiro tendo, em termos absolutos, mais votos do que este. Observe, então a lógica: num fundo a decisão de Lula ajuda a candidatura de Armando Monteiro. Simples assim.
Com o trauma causado no diretório estadual, Lula fez com que o partido não vote em Paulo Câmara. A militância queria Marília e não vai votar em Paulo porque o PSB votou a favor do impeachment. Então, tenderão a votar em Armando Monteiro que defendeu o governo Dilma, sendo, inclusive, um dos seus ministros. O PT enganou o governador pernambucano, sacrificou Marília e quem irá se beneficia será Armando Monteiro.
Em termos de senado, Humberto Costa não terá votos. Ele foi visto como um dos mentores da decisão de rifar Marília, como ele fez com o ex-prefeito João da Costa. Existem grandes mágoas. Assim, pelo Pernambuco deverá eleger Jarbas Vasconcelos senador com certa tranquilidade.
No bojo de tudo isso, o PT acabou com discurso das esquerdas. Ninguém acredita mais em qualquer proposta vindo das chamadas esquerdas. E na essência, as defesas públicas que são feitas das esquerdas, de Lula, do PT, são apenas meras tentativas de ressureição de um defunto insepulto. O PT errou quando apostou, e viveu, do carisma de Lula, mas ao que se sabe, isto era algo bem planejado por ele. Suplicy, no passado, colocou seu nome para disputar com Lula, na convenção do partido, a indicação para ser candidato a presidente da república e Lula não aceitou. Não haveria eleição, haveria aclamação. Ou ele seria aclamado candidato ou não participaria da convenção. Depois disso, Suplicy foi relegado ao ostracismo, recebeu chá de cadeira no Planalto tanto de Dilma quanto de Lula, inúmeras vezes quando era senador.
Depois de tanta besteira feita por uma pessoa que não tem influência sobre o partido, tem uma questão em aberto: Palocci afirma que o PT recebeu dinheiro de Kadafi. Se provar isso, então o PT não será sepultado, mas sim, cremado. Em praça pública.