terça-feira, 22 de janeiro de 2019

RECRUTA ZERO NÃO DEU BOM DIA A CAVALO


Carlos Andreazza 
Escrevi no Twitter que o discurso de Jair Bolsonaro em Davos foi ótimo. Curto, genérico e sem graça. Ou seja: ótimo. Por quê? Ora, questão fundamental: o presidente não é um bom orador, tampouco – assumidamente – um político conhecedor de matéria econômica. Se está acompanhado de Paulo Guedes na Suíça e pode, pois, falar pouco e superficialmente, sem entrar em detalhes do que desconhece, tanto melhor. Sinal de sabedoria. Deixe o especialista trabalhar. Será nas reuniões e palestras do ministro da Economia que o investidor estrangeiro sentirá (ou não) firmeza na direção econômica do Brasil. É Guedes quem deve ser consistente em Davos.
Tendo quarenta minutos para se expor, Bolsonaro usou algo como cinco. Aprecio isto. Como não tinha grande expectativa para um discurso encantador, basta-me que a coisa não nos complique. Alguém dirá que talvez não estivesse com a cabeça no Fórum, mas pensando em problemas ancorados no Brasil. Pode ser. Poderia ser pior, portanto. Circunstâncias negativas não raro resultam em manifestações desastrosas. Não foi o caso. Não se deve esperar brilho de quem nunca brilhou discursando. Valorizo o fato de não haver se lançado a formulações conspirativas. Não falou em Globalismo, por exemplo. Ponto para ele. Não foi um discurso de Ernesto Araújo.
Subiu no palco, deu as linhas gerais, com surpreendente foco inicial sobre a questão do meio ambiente. Disse também, citando Moro, que investirá em segurança, dando ênfase ao aspecto turístico, para que o país possa ser visitado. Mencionou reformas estruturais – sem falar da previdenciária especificamente, o que faria em seguida, na entrevista. Fez referência à excessiva carga tributária. Assumiu os compromissos de facilitar a vida de quem queira empreender aqui e de respeitar os contratos firmados pelo país. Em seguida, anunciou a meta de o Brasil, ao fim de seu governo, formar entre os cinquenta melhores mercados nos quais investir. E afirmou o interesse brasileiro em uma reforma da Organização Mundial do Comércio. Foi bom ouvir um governante brasileiro admitir que o país é ainda muito fechado para negócios.
Concluiu falando em democracia e em Deus.
Curto, genérico e sem graça. Sem invenção. Ótimo.



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