Fernanda
Torres
João Doria bem que
podia ter se valido dos versos de “Aluga-se”, do roqueiro, para embalar o vídeo
que encomendou para ser exibido nos Emirados Árabes, a fim de atrair
investidores interessados nas privatizações que ocorrerão, numa escala nunca
antes vista, no largest financial center in the Southern
Hemisphere. Interlagos, Pacaembu, Anhembi, Ibirapuera, o Mercado Central,
a malha de transporte e até os cemitérios estão lá, for sale. Um mar de
oportunidades na cidade que acolhe 50% dos billionaires do país, diz o anúncio.
Deu até inveja de o Doria ter o que vender.
O Rio de Janeiro não pode ser dar a
esse luxo. O rombo de mais de R$ 100 bilhões não permite. Ao governo acéfalo de
Pezão e companhia, resta apenas o refrão: “Nós não vamos pagar nada…”.
EXÍLIO EM LISBOA – Portugal me acolheu
na Era Collor, durante o confisco de Zélia e o enterro da Embrafilme. Fiz três
filmes na terrinha e uma penca de turnês de teatro para resistir ao longo
inverno.
Lisboa está em plena revitalização,
com um mercado imobiliário aquecido pela elite angolana, por chineses
endinheirados e brasileiros em fuga. Passei duas semanas de janeiro por lá,
pensando se um exílio ainda mais drástico me aguarda no futuro.
Voltei com medo de pisar em solo
pátrio, aterrorizada com as imagens do deus nos acuda da greve de policiais do
Espírito Santo e do levante dos servidores diante da Alerj, que transformou a
Primeiro de Março numa praça de guerra.
O cinturão de miséria que separa o
aeroporto do Galeão da zona sul choca os que chegam. O barril de pólvora,
alimentando a desigualdade social, está sempre pronto a explodir, numa cidade
falida pelo seu desgoverno.
LEGADO OLÍMPICO – Mas a bancarrota
atual também se faz notar nas áreas mais abastadas. O asfalto das reformas
olímpicas ainda não derreteu, mas as placas de VENDO se multiplicam nas janelas
dos prédios, inúmeras lojas fecharam as portas, tropas do Exército ocupam as
ruas e os tiroteios voltaram à ordem do dia.
Sete anos atrás, o metro quadrado na
Vieira Souto ultrapassava em valor o da avenue Foch, em Paris, e Eike Batista
arrotava progresso no talk show de Charlie Rose, durante a crise americana
pós-2008. Vale a pena ver de novo. Abri a porta de casa com a mesma
sensação de normalidade do suicida do Millôr, aquele, que durante a queda, entre
o abismo e o chão, pensa: “Até aqui, tudo bem”.
Marcelo Freixo acaba de entregar uma
proposta de impeachment para a chapa Pezão/Dornelles. Assino embaixo. Mas vou
além.
VAMOS VENDER O RIO – Enquanto Doria negocia São
Paulo nas arábias, proponho liquidar o Rio por aqui mesmo. Os paulistas
arrematariam o sul do Estado e a capital, numa transação que incluiria a
deslumbrante baía de Angra e Paraty, a usina nuclear, além dos cartões-postais
da Cidade Maravilhosa.
A região serrana caberia aos
mineiros, que ainda conquistariam um acesso ao mar, caso a crise recente afaste
o interesse do Espírito Santo na região norte. O agraciado açambarcaria o polo
petrolífero de Campos, ciente de que levaria Garotinho no pacote.
A derrocada que começou com a
transferência da capital para Brasília terminaria num leilão sumário, e o Rio
de Janeiro se tornaria um nome afetivo, tão saudoso quanto o da antiga
Guanabara. Seria esse o plano de Juscelino?
Aluga-se
Raul Seixas
A
solução pro nosso povo
Eu vou dá
Negócio bom assim
Ninguém nunca viu
Tá tudo pronto aqui
É só vim pegar
A solução é alugar o Brasil!...
Eu vou dá
Negócio bom assim
Ninguém nunca viu
Tá tudo pronto aqui
É só vim pegar
A solução é alugar o Brasil!...
Nós
não vamo paga nada
Nós não vamo paga nada
É tudo free!
Tá na hora agora é free
Vamo embora
Dá lugar pros gringo entrar
Esse imóvel tá prá alugar
Ah! Ah! Ah! Ah! Ah! Ah!...
Nós não vamo paga nada
É tudo free!
Tá na hora agora é free
Vamo embora
Dá lugar pros gringo entrar
Esse imóvel tá prá alugar
Ah! Ah! Ah! Ah! Ah! Ah!...
Os
estrangeiros
Eu sei que eles vão gostar
Tem o Atlântico
Tem vista pro mar
A Amazônia
É o jardim do quintal
E o dólar dele
Paga o nosso mingau...
Eu sei que eles vão gostar
Tem o Atlântico
Tem vista pro mar
A Amazônia
É o jardim do quintal
E o dólar dele
Paga o nosso mingau...
Nós
não vamo paga nada
Nós não vamo paga nada
É tudo free!
Tá na hora agora é free
Vamo embora
Dá lugar pros gringo entrar
Pois esse imóvel está prá alugar
Alugar! Ei!
-Grande Solução!...
Nós não vamo paga nada
É tudo free!
Tá na hora agora é free
Vamo embora
Dá lugar pros gringo entrar
Pois esse imóvel está prá alugar
Alugar! Ei!
-Grande Solução!...
Nós
não vamo paga nada
Nós não vamo paga nada
Agora é free!
Tá na hora é tudo free
Vamo embora
Dá lugar pros outro entrar
Pois esse imóvel tá prá alugar
Ah! Ah! Ah! Ah!
Nós não vamo paga nada
Nós não vamo paga nada
Agora é free!
Tá na hora é tudo free
Vamo embora
Dá lugar pros gringos entrar
Pois esse imóvel
Está prá alugar...
Nós não vamo paga nada
Agora é free!
Tá na hora é tudo free
Vamo embora
Dá lugar pros outro entrar
Pois esse imóvel tá prá alugar
Ah! Ah! Ah! Ah!
Nós não vamo paga nada
Nós não vamo paga nada
Agora é free!
Tá na hora é tudo free
Vamo embora
Dá lugar pros gringos entrar
Pois esse imóvel
Está prá alugar...
Está Prá Alugar Meu Deus!
Nós não vamo paga nada!
Nós não vamo paga nada!
É tudo free!
Vamo embora!!!
Nós não vamo paga nada!
Nós não vamo paga nada!
É tudo free!
Vamo embora!!!
https://www.youtube.com/watch?v=d3iI-ktX2WI
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