Reinaldo Azevedo
Dados os números do Datafolha, partindo do princípio de que estão
corretos, se eu fosse o candidato tucano GERALDO ALCKMIN, com 9% das intenções de voto, começaria
por reconhecer que a situação, com efeito, é muito difícil. Até aí, nada de
surpreendente. Ainda que, conceitualmente, liberalismo seja diferente de
social-democracia, e ambos sejam muito distintos do protofascismo — às vezes,
criptofascismo — bolsonarista, o fato é que, nas circunstâncias brasileiras, há
um trânsito de eleitores entre esses territórios.
PERGUNTO: vale a pena, do ponto de vista da tática eleitoral, ALCKMIN se apresentar como o antipetista modelo? A
minha resposta e “não!” A razão é simples: esse discurso já foi capturado por
Jair Bolsonaro, com 26% no primeiro turno. Parte do eleitorado do postulante do
PSL até enxerga virtudes místicas e demiúrgicas no seu escolhido. Mas ousaria
dizer que é um grupo reduzido. A maioria quer mesmo é dar um voto contra o PT e
contra a tal “política tradicional, em que todo mundo rouba”, conforme o catecismo
escatológico, do Fundimundistão, criado pela Lava Jato.
A melhor marca de Bolsonaro se dá entre universitários (32%) — só 18%
entre os que têm o ensino fundamental — e entre os mais endinheirados: 36%
entre os que ganham mais de 10 salários mínimos; 43% entre os que estão na
faixa de cinco a dez, e apenas 18% entre os que recebem até dois. Vale dizer:
parte considerável do eleitorado do “capitão” sabe que ele tem um entendimento
curto sobre administração pública. Intuo que essa gente não esteja votando
nele, MAS CONTRA O PT, contra as esquerdas e contra a
roubalheira. Alimenta a crença ingênua no herói que chega lá e dá um murro na
mesa.
Não há como ALCKMIN competir nesse território. Se ele fizer do
PT o seu alvo principal, estará, na prática, colaborando com a candidatura de…
Bolsonaro. Afinal, ajuda a descontruir aquele que o candidato do PSL elegeu
como alvo principal, sem conseguir se mostrar tão, como direi?, cru — porque
tem certos pudores que o outro não tem — no ataque.
Ainda que a situação de ALCKMIN seja bastante difícil, com 9%
das intenções de voto, a sua chance está em se confrontar com Bolsonaro. E, em
seu lugar, eu nem daria ênfase à história de que “sou o melhor para vencer o
PT”. A mensagem tem de ser mais aberta e se colocar como o melhor para evitar a
guerra campal, o conflito permanente, o risco de crise.
Notem que há 9% dos votos distribuídos entre Álvaro Dias (Podemos), João
Amoêdo (Novo) e Henrique Meirelles (MDB), cada um deles com 3%. Estão em
territórios do centro e da direita, mas que ainda não se deixaram seduzir por
Bolsonaro. ALCKMIN teria de falar com esses eleitores,
evidenciando que suas respectivas escolhas empurram o país para o pior cenário:
uma polarização entre a extrema-direita, com sua retórica violenta e ausência
de programa, e a esquerda, representando um passado que o país já superou.
Vale dizer: ALCKMIN até pode vir a tirar alguns votos de
Bolsonaro, mas será algo residual. Ele precisa conquistar eleitores que hoje
dizem votar “BRANCO OU NULO” (13%), os indecisos (6%) e parte daqueles
que se distribuíram por outras candidaturas de centro e direita e que podem
fazer voto útil num cenário de eventual polarização. A prioridade de ALCKMIN tem de ser DESCONSTRUIR BOLSONARO, ALERTANDO PARA O RISCO DE CAOS.
OU NADA FEITO.
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