terça-feira, 25 de setembro de 2018

HADDAD & BOLSONARO: VEM AÍ O ANSEIO DA VINGANÇA e a RAMPA DO AUTORITARISMO



Uma marca da campanha eleitoral de 2018 é a placidez com que se atacam os princípios basilares da democracia sem que isto enrubesça a face dos liberticidas ou cause arrepios nos segmentos da sociedade que os apoiam. O menoscabo pelas instituições republicanas, os ataques à liberdade de imprensa e o desapreço pela atividade política dita tradicional são vocalizados, às vezes em português cristalino, por candidatos bem colocados nas pesquisas de intenção de voto.
A popularidade dessas candidaturas parece crescer – ou ao menos não chega a ser abalada – à medida que recrudescem os ataques verbais e, mais grave, as ameaças, diretas ou veladas, a tudo e a todos que estejam de alguma forma associados ao establishment político, aqui tomado em sua mais nobre acepção, qual seja: o ambiente propício à construção de compromissos em prol do bem comum. Isto implica tratar adversários como interlocutores legítimos, não inimigos a serem eliminados das lides próprias da política. Não é isso que se tem visto.
O anseio de vingança e o pendor ao autoritarismo, não raro conjugados, têm dado a tônica dos discursos dos candidatos que lideram as pesquisas e de seus porta-vozes. O despreparo absoluto para definir e conduzir os rumos da Nação é tomado como virtude em meio à derrocada de profissionais da política, fruto de uma perniciosa metonímia – não casual – que condenou o todo pelo desencaminho de partes. A História há de cobrar de alguns membros do Ministério Público Federal e do Poder Judiciário a salgada fatura pela criminalização da política, indistintamente.
Soa bem o discurso da destruição aos ouvidos exaustos e indignados de muitos brasileiros fartos de sucessivos, e cada vez mais escabrosos, casos de corrupção. Tantos que a fazem parecer, erroneamente, um mal atávico de nossa identidade nacional.
Cala fundo nos corações de cidadãos que temem por suas próprias vidas e as dos seus nas grandes cidades do País o discurso da força, não só a que provém do Estado, detentor legítimo do monopólio da violência, mas sobretudo a de lideranças que buscam personificar um resgate da “ordem”, ainda que em nome disso sobrepujem as garantias do Estado de Direito que nossa Lei Maior consagra já em seu preâmbulo.
O que haverá de surgir dos escombros da chamada antipolítica – no fundo, uma falácia – não se sabe o que é; e isso não parece ter muita importância no debate eleitoral.
A Nação não poderá alegar desconhecimento ou “traição” caso triunfe nas urnas um dos projetos autocráticos e populistas que ora estão sob escrutínio público. Não haverá inocentes caso se abatam sobre o País os infortúnios que certamente hão de advir do perigoso flerte com o atraso. Na era da informação massificada, não há álibi para consciências arrependidas.
Na mesma medida, estão muito claros os enormes desafios que se apresentam diante da Nação para que o País volte a trilhar o benfazejo caminho do desenvolvimento econômico e da justiça social. Tal como as ameaças à democracia, as saídas deste labirinto no qual os brasileiros foram colocados como camundongos da nefasta experiência lulopetista, são claras também as propostas apresentadas por outros candidatos para sanear as contas públicas, retomar os investimentos e reduzir o dramático nível de desemprego.
A impopularidade desse conjunto de medidas saneadoras, no entanto, é alta. É diretamente proporcional à dimensão dos danos infligidos ao País pelos desatinos de Dilma Rousseff, que em boa hora foi apeada do poder antes que tivesse tempo de superar os limites de sua própria incompetência.
Em pouco mais de duas semanas, a sociedade brasileira será chamada a escolher entre dois caminhos possíveis: o mais difícil, o do compromisso nacional com as reformas e a responsabilidade; e o caminho fácil do populismo e do sonho irrealizável. Qualquer que seja a escolha livremente feita nas urnas, a Nação será senhora de seu destino. A ver se iremos em direção ao fortalecimento da democracia e à saúde fiscal do País ou se daremos uma guinada rumo a um passado de tristes lembranças. - Editorial do Estadão. -

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