Vera Magalhães
“Guardei e nunca usei, porque eu uso
outro tipo de relógio. Mas, se o cara me deu de presente, vou fazer o quê?” A
fala, um monumento à desfaçatez, é do ex-ministro-chefe da Casa Civil da
presidente cassada Dilma Rousseff Jaques Wagner (PT). Diante da revelação
de que recebeu de presente de um lobista da Odebrecht UM RELÓGIO QUE CUSTA A
BAGATELA DE US$ 20 MIL, o petista achou que adaptando o “fumei, mas não
traguei” de Bill Clinton estaria se eximindo de culpa.
Para qualquer um soa grotesco, além
de ofensivo. Mas o estarrecedor é que uma versão institucional desse tipo de
desculpa está sendo costurada por representantes dos três Poderes e deverá ser
transformada em tese jurídica em 2017 para tentar separar quem vai ser ceifado
e quem sobreviverá à Operação Lava Jato.
Como a delação conjunta de 77 pessoas
ligadas à Odebrecht, a maior empreiteira do País, ameaçava tragar
indistintamente políticos de todos os matizes políticos e ideológicos, de
diversos partidos e diferentes graus de participação nos esquemas da Petrobrás,
tratou-se de criar uma distinção entre O CAIXA 2 “ROMÂNTICO”, “MOLEQUE”, E
AQUELE NEFASTO, FRUTO DE CORRUPÇÃO e destinado, veja só o leitor que
indignidade, ao enriquecimento pessoal do beneficiário.
GANHANDO APOIO – A tese encontra
ressonância entre ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), ecoa nos
corredores da Câmara dos Deputados e do Senado Federal e encontra abrigo
acolhedor na Esplanada dos Ministérios e no Palácio do Planalto.
Há que se distinguir, dizem ministros
do Supremo, parlamentares e auxiliares de Michel Temer, o que “sempre se
praticou” para financiar campanhas eleitorais no Brasil, e era “CULTURALMENTE
ACEITO”, de casos aberrantes como o do ex-ministro Antonio Palocci (PT) e do
ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB), que experimentaram extraordinário
enriquecimento à custa de propina, corrupção, lavagem de dinheiro, tráfico de
influência e outras delinquências.
Os teóricos da tese do “CAIXA 2
LIMPINHO” tentaram anistiar em lei o que
foi feito até a delação da Odebrecht, mas a grita da sociedade impediu. Então,
a ideia é que a tese prevaleça no STF quando – e se um dia – forem julgados os
políticos envolvidos no petrolão.
“JOIO” E “TRIGO” – O discurso de que é preciso
distinguir o “JOIO” (CAIXA 2 INGÊNUO)
DO “TRIGO” (ENRIQUECIMENTO PESSOAL) é o de que todo
mundo que tenha feito campanhas políticas no Brasil desde a redemocratização
sabe como elas eram financiadas. “Nem os políticos nem as empresas eram
bandidos. Sei o quanto de dinheiro era necessário para se fazer uma campanha.
Não sou um criminoso. Nenhuma empresa tirava dinheiro do bolso. Elas doavam
tendo a expectativa de obter contratos. O que vai-se condenar é esse modelo,
que não é mais admitido. Mas quem o praticou anteriormente não pode ser punido
da mesma forma que quem fez fortuna”, diz, de forma reservada, um ministro
citado nas delações da Odebrecht.
E a quem caberá separar os grãos? Ao
Supremo. “Já há um grupo de ministros convencido de que a Corte tem de ser a
instância última para tirar o País da convulsão institucional”, confia o
ministro delatado.
SEGUNDA TURMA – O roteiro condiz
com as palavras do ministro Gilmar Mendes, que disse com todas as letras que
nem sempre caixa 2 é fruto de corrupção, assim como a Lava Jato também mostra
que a doação legal a campanhas não é sinônimo de legalidade, uma vez que muitas
propinas eram pagas dessa maneira. A Segunda Turma do STF, que julga os casos
de políticos encrencados na Lava Jato, é composta por cinco ministros: o
relator, Teori Zavascki, o decano Celso de Mello, Gilmar Mendes, Dias Toffoli e
Ricardo Lewandowski. Pode vir dali o novo alinhamento que permitirá tirar do
foco muitos dos citados em delações – da Odebrecht e anteriores. AFINAL, ASSIM COMO
JAQUES WAGNER, MUITA GENTE RECEBEU PRESENTES DE EMPREITEIRAS, MAS NÃO USOU PARA
DESFILAR POR AÍ, NÃO É MESMO?
Nenhum comentário:
Postar um comentário