Reinaldo Azevedo
Este parece mesmo ter sido o mais longo
dos anos. É como se ele insistisse em não acabar para que possamos todos
relaxar por alguns instantes, com aquela sensação agradável do dever cumprido.
Como quem encontra a sombra fresca de uma árvore depois de caminhar ao sol;
como quem se livra do sapato apertado; como quem, em companhia da pessoa amada,
encontra um pouco de “descanso na loucura”, como escreveu Guimarães Rosa.
A realidade política brasileira, EIVADA DE LADRÕES, rouba-nos frequentemente de nós mesmos, de nossos afetos, das coisas
que nos são caras, da nossa rotina familiar, da nossa história privada, de
nossas lendas pessoais, de nossos amigos — e, convenham, é nesses retratos
interiores que a vida de fato vale a pena. Não há conquista que possa compensar
a falta desse regaço, desse aconchego, desse carinho desarmado.
Quem atua também na Internet, como atuo,
conhece todos os relevos do ÓDIO, DA INVEJA, DO RESSENTIMENTO, DA VIGARICE
INTELECTUAL, DO OPORTUNISMO, DA CANALHICE, DA TRAIÇÃO. Mas também é recompensado pelo
reconhecimento, pelo incentivo dos justos, pelo apoio dos esclarecidos, pela
coragem dos prudentes.
Faço esta pausa para agradecer, mais um
vez, a atenção e a colaboração dos leitores. Este blog, como sabem, se
multiplicou: na prática, está no jornal, na rádio, na televisão, em páginas nas
redes sociais. É claro que há nisso o meu esforço pessoal. Mas não é menos
verdade que são vocês a força que sustenta em múltiplas plataformas um
pensamento nem sempre muito fácil.
Quem me acompanha nestes anos — ou bem antes, em outros veículos — sabe
que não faço questão de andar na contramão, mas também não tenho nenhum receio
de enfrentar vagas majoritárias. Os 13 anos de petismo me prepararam para
enfrentar o jogo pesado. A rigor, os companheiros provocam minha vocação
analítica desde antes, desde Santo André. Nesse tempo, criei TERMOS como “PETRALHA” e “ESQUERDOPATA” para designar OS
TARADOS DO AUTORITARISMO EM SEUS 50 TONS DE VERMELHO.
AS RUAS, A CONSTITUIÇÃO E O CONGRESSO
DERRUBARAM O PT. Nem por isso, tudo aquilo que se opõe ao partido me serve. Nem
por isso, todos os inimigos do petismo são meus amigos. Nem por isso todos os
meios para combatê-lo são válidos. Eu sou aquele que ousou rever Maquiavel.
Para mim, os fins não justificam os meios. A minha frase é outra: os meios
qualificam os fins.
Se conheci, e conheço ainda, todos os
relevos do ataque vil em razão das críticas que fiz e faço ao petismo, não
posso aqui testemunhar a suavidade dos que se tornaram fanáticos na Lava Jato.
Porque esta faz, inegavelmente, um trabalho meritório e fundamental para o
país, é evidente que não pode se colocar acima da lei. A MELHOR MANEIRA DE PRESERVAR
A OPERAÇÃO É APLAUDIR OS SEUS ACERTOS E APONTAR OS SEUS ERROS, COMO QUERIA
SANTO AGOSTINHO: “Prefiro os que me criticam porque me corrigem aos que me
elogiam porque me corrompem”. Isso não quer
dizer que toda crítica é corretiva ou que todo elogio é corruptor. Agostinho só
estava chamando atenção para o fato de que ambos têm de ser ponderados.
Durante anos, o petismo gozou de uma
espécie de imunidade junto a vários setores formadores de opinião, inclusive a
imprensa. Isso fez um mal imenso ao Brasil. Não chegamos à pior crise de nossa
história por acaso. Sabem o que à grande maioria faltou acima de tudo? Coragem
para divergir, descortino para enfrentar a manada, clareza para resistir à
quase-unanimidade. E, sem pretensão, eu enfrentei.
E não temi arrostar agora com outros
gigantes. Paguei um preço relativamente alto antes que o debate voltasse a seu
leito. Mas, felizmente, voltou. Hoje já é consenso que a liminar de Marco
Aurélio, que procurou tirar Renan Calheiros da Presidência do Senado, era
ilegal e seria derrubada, como disse aqui em primeira mão. Hoje, já está claro
que há uma diferença entre o político Renan e o cargo institucional que ele
ocupa.
Hoje, já é quase um consenso que tanto
extrema esquerda como extrema direita atuam para desestabilizar o presidente
Michel Temer. A primeira porque especula com a institucionalidade; a segunda
porque especula no mercado.
Raramente me senti tão bem fazendo esta
página como neste 2016. Das jornadas em favor do impeachment às lutas de agora,
sempre o mesmo norte: a defesa da ordem democrática, do Estado de Direito, do
devido processo legal.
E assim será enquanto existir.
Tenham um ótimo Natal e um 2017 de luta!
Aliás, como é mesmo que eles diziam? “Não
vai ter golpe, vai ter luta!”. – A manchete e a imagem deste texto
que fora condensado não fazem parte do original-
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