Josias de Soua
O
derretimento político de Michel Temer deflagrou em Brasília um enredo
novo. Os aliados do Planalto passaram a tratar Temer como chefe de um
governo que chegou ao fim com o presidente ainda no cargo. Nesta
terça-feira os caciques governistas se esforçarão para reativar as
votações no Congresso. Mas fazem questão de dissociar a iniciativa da
estratégia concebida por Temer para passar a impressão de que ainda
preside.
“Não devemos deixar o país degringolar em função de uma
crise de governo”, disse Tasso Jereissati, presidente do PSDB. Estamos
avaliando a situação do governo separadamente.” Agripino Maia,
presidente do DEM, ecoou: “Os três poderes precisam funcionar. O
Judiciário faz o seu papel. O Executivo precisa fazer o dele. A nós cabe
colocar o Legislativo em funcionamento. Faremos isso em nome do
interesse do país, que não pode ser paralisado pela crise.”
No
momento, os governistas parecem menos preocupados com Temer e mais
ansiosos por encontrar uma saída que os redima do fiasco de ter subido
numa ponte com aparência de pinguela sem ter um plano de contingência. O
Plano A era trocar Dilma Rousseff por Temer e aprovar no
Congresso reformas que reacendessem as fornalhas da economia. Reativado o
PIB, os apologistas do governo seriam os primeiros a se beneficiar
eleitoralmente da volta do crescimento.
A delação da Odebrecht
indicou que era ilusória a ideia de que Temer seria um presidente em
condições de dirigir os rumos do país nesta ou naquela direção. Ficou
claro que lhe faltava uma noção qualquer de ética. A delação da JBS teve
para Temer o peso de uma lápide. Grampeado pelo delator Joesley
Batista, o pseudo-presidente tornou-se personagem de uma história
fantástica, passada num país à beira do imaginário. Uma história bem
brasileira.
Aliados em geral —PSDB e DEM em particular— puseram-se a matutar: “O Plano B
era, era, era…'' Perceberam que não havia um Plano B. Abraçado ao PMDB
sem projetar uma saída de incêndio. Agora, improvisam um Plano B em cima do joelho. Consiste na repetição do Plano A,
só que com outro cúmplice no papel de presidente. Falta-lhes consenso
quanto ao nome ator substituto a ser escalado para salvar as aparências
até a eleição de 2018. Por isso, cozinham Temer por mais algum tempo.
Ficou
fácil identificar os apoiadores de Temer no Congresso. Eles estão nas
rodinhas em que as conversas terminam sempre em especulação sobre os
nomes dos hipotéticos substitutos de Temer.
As menções a Henrique
Meirelles chegam acompanhadas do aviso de que o ministro da Fazenda já
trabalhou para a J&F, holding que controla a JBS do delator Joesley
Batista. Nelson Jobim? Virou banqueiro, sócio do BTG Pactual. Rodrigo
Maia? É o ‘Botafogo’ das planilhas da Odebrecht. FHC? Não tem mais
idade. Tasso Jereissati? Irrrc… Cármen Lúcia? Vade retro!
A esse
ponto chegou o país. Temer, como um disco arranhado, repete
incessantemente: “Não vou renunciar.” Na sua penúltima manifestação,
veiculada nesta segunda-feira pela Folha, o suposto presidente
acrescentou: “Se quiserem, me derrubem.” Seus aliados avaliam que talvez
não seja necessário empurrar.
Os pajés da aldeia governista
enxergam Temer como uma espécie de cocheiro de diligência que deixou as
rédeas dos cavalos escaparem de suas mãos. Pode espatifar-se a qualquer
momento. No dia 6 de junho, por exemplo, quando o Tribunal Superior
Eleitoral retoma o julgamento sobre a cassação da chapa Dilma
Rousseff—Michel Temer. Isso, evidentemente, se até lá não for encontrada
no interior da diligência desgovernada a mala com R$ 500 mil que a JBS
entregou a Rodrigo Rocha Loures, o ex-assessor que Temer credenciou como
interlocutor junto a Joesley Batista, o ''falastrão''.
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