LULA E LÉO PINHEIRO VISITANDO A REFORMA DO TRÍPLEX |
Eduardo Affonso
Imagine que você, como eu, não tenha
um tríplex no Guarujá. Não tem. Não é seu. Não te pertence. Você precisa ler
100.000 páginas de documentos enviados pela Petrobras pra responder a um juiz
que não, o tríplex não é seu?
Agora suponha que você tenha ido ver
o tríplex. (Eu vi muitos apartamentos antes de comprar o meu. Vi, olhei,
xeretei, perguntei, quis ver a garagem, falei com o porteiro – mas não rolou.)
Em algum desses apartamentos que você
eventualmente tenha visitado, te ocorreu mandar a construtora mexer na sauna ou
instalar um elevador privativo, antes de assinar o contrato? Até posso imaginar
a cara do corretor.
Ops, quem te levou pra ver não foi o
corretor, mas o dono da construtora? Acontece. Comigo nunca aconteceu, mas
acontece.
Acho que nem assim você mandaria
mexer na planta se não fosse comprar o imóvel. Ou se ele já não fosse seu. A
menos, claro, que você seja arquiteto. Arquiteto sempre quer mexer na planta,
tem sempre uma solução melhor do que a dada pelo autor do projeto original (um
arquiteto não tão bom quanto você, evidentemente).
Ok, assim como quem não quer nada,
você (que não é arquiteto) sugeriu que botassem um elevador privativo, mexessem
na sauna e instalassem uma cozinha modulada caríssima igual à que você tem num
sítio que, por coincidência, também não é seu Sua mulher (ou seu marido) vai lá
durante a obra e pede urgência, dizendo que vocês querem passar o reveiôn no
cafofo.
A Construtora toca o pau, a obra fica
pronta e antes de você se vestir de pai de santo e estourar a Sidra Cereser na
sacada, a imprensa descobre e mela tudo. Tem noivo que abandona a noiva no
altar, confere? A moça lá, maquiada feito apresentadora da Rede TV!, os
cajuzinhos e bem-casados já na bandeja, a Nova Schin no freezer e o moço dá pra
trás. É a coisa mais normal de acontecer – pelo menos em novela.
O que faz o dono da construtora
(equivalente ao pai da noiva) neste caso? Te mete um processo, cobra na Justiça
os prejuízos (seja com o elevador, seja com os cajuzinhos) ou… deixa o
apartamento fechado (acabam aqui as analogias com o casamento), não anuncia,
esquece, releva, desapega?
Aí você pode dizer (e diz) que o
problema não é seu, é do dono da construtora. Ele não vendeu o apartamento pra
outro porque não quis. Você nunca falou que ia comprar – só tentou ajudar
melhorando a planta e sugerindo uma cozinha igual àquela sua (que não é sua).
Você precisa esperar a impressão de
100.000 páginas de documentos da Petrobras (onde mesmo a Petrobras entra nessa
história?) pra dizer isso ao juiz? Precisa, pra ganhar tempo, porque o dono da
construtora já disse que o apartamento é seu. Que ainda não está em seu nome,
mas é parte do pagamento de uns favores (ilícitos) que você prestou a ele (e
comprova os tais favores ilícitos).
Nem assim você precisa pedir três
meses para ler 100.000 páginas de documentos da Petrobrás (a Petrobras tem a
ver com os tais favores ilícitos) antes de ir dizer ao juiz que o seu
apartamento não é seu. Mas precisa de todo o tempo do mundo para não ser
mandado pro Serasa, pro SPC, antes de dar o próximo golpe – que você só vai
conseguir aplicar se não estiver com o nome sujo na praça.
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