Jorge Oliveira
Ainda
soam muito estranho as vantagens oferecidas pelo Ministério Público aos
irmãos Batista, da JBS. Aproveitadores confessos dos empréstimos do
BNDES (embolsaram mais de 8 bilhões de reais dos brasileiros para
comprar empresas no exterior), delataram presidentes envolvidos em
trapaças, um monte de político, e de uma hora para outra desapareceram
do Brasil a bordo de um avião particular. Os irmãos bilionários
cometeram todo tipo de crime, mas, orientados por seus advogados,
decidiram apresentar-se ao Ministério Público e abrir o jogo, o mais
escandaloso de todos os outros da Lava Jato.
Sou um daqueles brasileiros que
se sentiram lesados pelos irmãos Batista e pelo Ministério Público. Vi,
com surpresa, desaparecerem do Brasil dois empresários que durante mais
de dez anos espoliaram o patrimônio público com a colaboração e a
cumplicidade do PT e de políticos inescrupulosos de outros partidos.
Esses senhores escancararam as portas dos bancos estatais e dos fundos
de pensão para alimentar a ambição dos Batista que montaram um império
no exterior com o dinheiro do trabalhador brasileiro. Ao deixarem o
Brasil, ficamos, todos nós, com a sensação de que fomos burlados com o
nosso próprio dinheiro por dois empresários expertos que botaram no
bolso literalmente toda a elite política do país com as suas
maracutaias. E, ao saírem, atearam fogo no circo.
Os depoimentos dos irmãos ao
Ministério Público ainda podem ser revistos. Os dois devem esclarecer
detalhes que estão sendo questionados hoje por peritos e agentes da
Polícia Federal que não tiveram acesso às gravações, um erro grave que o
MP não sabe explicar. Evidentemente que esses pormenores não devem
alterar muito as investigações nem isentar de culpa os políticos
envolvidos na caixinha dos bilionários. A revelação da dupla “caipira”
só mostra como o processo político do país está degenerado, afetado pela
corrupção. Deixa claro também a relação promiscua entre os poderes
constituídos e os empresários cooptados por políticos para se tornarem
sócio do dinheiro público nas campanhas eleitorais.
Já se falou aqui da
responsabilidade de Michel Temer, das suas péssimas companhias (oito dos
seus ministros estão envolvidos na Lava Jato) e da sua cumplicidade com
empresários que alimentam o seu partido, o PMDB. Desde que assumiu não
consegue se livrar dos escândalos. Eles começaram dentro de casa quando
seu assessor especial José Yunes denunciou o ministro chefe do Gabinete
Civil, Eliseu Padilha, acusando-o de receber propinas por meio do seu
escritório de advocacia em São Paulo.
De lá pra cá, oito dos seus
ministros foram denunciados na Lava Jato e o governo continuou
paralisado, inerte às denúncias. Agora, joga-se um petardo no colo dele.
Joesley grava Temer e entrega a gravação ao Ministério Público. De nada
adianta ao presidente tentar desqualificar a gravação ou denunciar a
sua adulteração. Se ela está editada cabe a Justiça penalizar os irmãos e
quebrar o acordo da delação premiada. O que não se admite, contudo, é a
intimidade revelada entre Temer e o empresário envolvido nas
maracutaias.
Temer abriu a guarda ao receber
Joesley no palácio. Mas pelas regalias dispensadas ao delator deixou
claro a intimidade que tinha com ele. Pediu que a segurança
negligenciasse ao não pedir a identificação do visitante. Deu-lhe passe
livre para ser gravado porque Joesley tinha acesso fácil à sua casa.
Tanto é assim que tratou com ele de vários assuntos. O mais sensível
deles, a situação de Eduardo Cunha, réu condenado a 15 anos por
corrupção. Nada justifica que o presidente mandasse abrir os portões do
palácio para receber um empresário que já se sabia colaborar do
Ministério Público por crimes cometidos.
A renúncia do Temer não iria
consertar os desacertos do país tão traumatizado pelas várias
organizações criminosas partidárias. O receio é que a sua saída traga de
volta outros criminosos agora mais sofisticados para dilapidarem o
patrimônio do Brasil. É mais prudente esperar as eleições de 2018 para
que o povo escolha democraticamente o seu governante para impedir,
assim, que esse Congresso carcomido o escolha por eleição indireta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário