Carlos
Andreazza
Este O GLOBO publicou, em 8 de junho,
um artigo do deputado CARLOS ZARATTINI, LÍDER DO PT NA CÂMARA e eleitor de Michel Temer em 2010 e
2014, para cujo mandato não só deu voto como trabalhou, mas cujo governo agora
chama de ILEGÍTIMO.
Não é forma honesta de lidar com a soberania popular, sobretudo quando o texto
em questão — de um petista — atribui às ELEIÇÕES DIRETAS
força para vencer crise cavada e aprofundada por petistas eleitos.
Tenho dúvidas sobre se uma eleição
legalmente imprevista seria capaz de resolver sequer um problema brasileiro.
Estou certo, porém, de que a democracia seletiva de Zarattini não está
preocupada com solução, SENÃO COM UMA QUE RECOLOQUE
O PT NO PODER. Há intenção no simplismo.
O artigo é, portanto, um panfleto —
um panfleto a favor de eleições diretas a presidente e para o Congresso, caso
Temer caisse. Sendo assim — dependente, pois, de uma emenda constitucional —, é
estranho que, em sete parágrafos, não haja uma referência à Constituição
Federal. (Ao apontar o dedo para corruptos adversários, o deputado tampouco
menciona a ODEBRECHT como
corruptora; por quê?) É estranho, mas compreensível: o PT não respeita a Carta
Magna, cuja promulgação se RECUSOU A ASSINAR,
e a trata como massa de modelar para seus interesses de ocasião.
Zarattini é agente e vítima dessa
cultura oportunista, de matriz autoritária, que ora se articula para que o
maior assalto ao Estado já havido no país — PROMOVIDO PELO PT — confunda-se
com o conjunto de crimes investigados pela Lava-Jato, como se tudo fosse o
mesmo. Não é, mas o artigo que escreveu é integrante desse esforço de distorção
e opera com método o programa mistificador capaz de atribuir a Temer — sócio
minoritário no arranjo que pilhou a República — os 14 milhões de desempregados DECORRENTES DOS ANOS EM QUE O PT SE BANQUETEOU DO
BRASIL PARA EMPANZINAR SEU PROJETO DE PODER.
Petistas já nascem com o chip para
classificar a política econômica alheia como “ELITISTA”, “ORTODOXA” e “DESASTROSA”.
Mas como reagiriam — sem o recurso à histeria — caso confrontados com a versão
segundo a qual elitista mesmo foi a política econômica dos governos do PT? Já
virou senso comum que o sistema financeiro nunca ganhou tanto dinheiro quanto
nas gestões petistas. Não sei se procede, não fiz as contas; tampouco, porém,
vi banqueiro reclamar. Incontornável é que a expansão irresponsável do crédito
para quem nunca o teve pode ter sido uma maravilha pontual para o trabalhador,
mas o foi também — aí, longamente — para quem o concedeu. Com o tempo, o
artifício se mostraria insustentável, aos mais pobres só restaria o
endividamento — e, aos bancos, a graça espichada dos juros provenientes do
pagamento dessas dívidas. NÃO É NA REBARBA DESSA MISÉRIA QUE AINDA ESTAMOS?
Isso eu chamo de política econômica
elitista – e desastrosa. Sobrou, contudo, a ortodoxia. Ocorre que Zarattini
escreve sobre “a desnacionalização da economia, com entrega irresponsável de
riquezas nacionais a grupos estrangeiros, como o pré-sal”. Fala ainda em defesa
da “política de conteúdo local para o setor de petróleo e gás” — e exige “o
reforço à Petrobras”. Difícil ser mais ortodoxo que isso. Ou o leitor não terá
lembrança sobre no que deu a nacionalização da economia, com entrega
irresponsável de riquezas nacionais a grupos nacionais, como o pré-sal? Ou não
terão sido os governos petistas, apaixonados pela época do general Geisel, a
ofertar as tetas do Estado — sobretudo via BNDES — para que campeões nacionais
como EIKE BATISTA enriquecessem sob o delírio
megalômano e cleptocrático da política de conteúdo local para o setor de
petróleo e gás? Hein? E a Sete Brasil? (A respeito do reforço à Petrobras,
suponho que se trate de um pleito para que a estatal contrate craques como os
saudosos Paulo Roberto Costa e Renato Duque.)
Zarattini considera que Temer não tem
condições de governar. É possível. Mas isso, de acordo com o deputado, porque
pressionado por uma sociedade conflagrada — e, por sociedade conflagrada,
reputa aqueles mil e poucos abastados que protestaram em Copacabana ao som de
Caetano Veloso, e a meia dúzia de terroristas que depredou patrimônio público
em Brasília. Zarattini avalia que um presidente eleito democraticamente não tem
legitimidade, mas que legítimo será violar três artigos da Constituição e mudar
a conformação do tabuleiro mesmo com a partida já avançada.
O texto se acerca do fim. O deputado,
então, apresenta sua proposta sobre o que seriam as eleições diretas segundo o
PT: um processo amplo, democrático e — esperei a leitura inteira por isto — “SEM FINANCIAMENTO EMPRESARIAL”. Opa!
No penúltimo parágrafo, Zarattini infiltra o sonho maior do petismo: QUE O ESTADO PAGUE MAIS ESSA CONTA E BANQUE AS
CAMPANHAS ELEITORAIS.
Para concluir, o deputado, que não
fala da ODEBRECHT
(por que será?), sente-se à vontade para citar a corrupção da JBS — como se não
fosse o PT o pai da criança. Zarattini deve ter sido convencido — por Janot e
Fachin — de que Temer é o bandido protagonista do crime que financiou o império
artificial dos Batista. A DESINFORMAÇÃO FUNCIONA.
O nome de Lula não aparece no artigo, mas é tudo para ele.
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