Por Altamir Pinheiro
Uma jornalista perguntou a Alan Ladd, dois anos antes do
ator falecer: “O que você mudaria em si próprio, se pudesse?!?!?!” A resposta
de Alan Ladd foi surpreendente: “Tudo!!! Eu mudaria tudo e teria feito tudo
diferente na minha vida se pudesse”. É no mínimo estranho que um dos atores
mais queridos do cinema por quase duas décadas, que constituiu uma bela família
e se tornou milionário, demonstre descontentamento com sua vida. Essa
declaração deixa de ser estranha quando se conhece um pouco mais profundamente
a alma verdadeiramente torturada de Alan Ladd.
O público venerava Alan Ladd, o campeão, por larga vantagem, de
correspondência da Paramount, com mais de 20 mil cartas por mês. Em 1948 Alan
Ladd atuaria em seu primeiro western como astro e também seu primeiro filme em
cores, intitulado “Abutres Humanos”. Dois anos depois filmaria “O Último
Caudilho”, outro faroeste. Mas um grande western, filmado em 1951, marcaria
para sempre a carreira de Alan Ladd. O filme chamou-se ou se chama “SHANE” (OS BRUTOS TAMBÉM AMAM). Shane foi seu maior trabalho. É difícil imaginar Shane
interpretado por outro ator. Alan Ladd conferiu grande dignidade ao personagem.
Sua interpretação é irretocável. O Diretor George Stevens acertou em cheio,
talvez não esperasse por isso.
Considerado
quase que unanimemente um dos mais perfeitos faroestes já produzidos, "Os
Brutos Também Amam" logo em seu primeiro ano de exibição havia alcançado o
status de clássico. Os espectadores percebiam que não se tratava de um western
comum, mas sim de um filme para ser lembrado por muitos anos, um daqueles que
merecem entrar na lista dos filmes inesquecíveis. Assim como "A Um Passo
da Eternidade", "Os Brutos Também Amam" certamente merecia um
lançamento em sala de maior destaque que fizesse justiça a sua qualidade
artística.
Passado mais de um ano de seu
lançamento nos Estados Unidos, "Os Brutos Também Amam" (Shane) era um
dos lançamentos mais aguardados no Brasil no ano de 1954. Os ecos de seu
sucesso nos States e a antecipada e contínua execução de seu bonito tema
musical nas rádios brasileiras mais aumentava a ansiedade dos cinéfilos do
maior país ao Sul do Equador. Alan Ladd era um astro bastante querido pelo
público e George Stevens um cineasta admirado pela crítica especializada que
recentemente havia sido arrebatada por “Um Lugar ao Sol”, por ele dirigido.
Depois de longa espera, finalmente no dia 14 de junho de 1954 "OS BRUTOS
TAMBÉM AMAM" estreou em São Paulo. Conforme
nos relata o pesquisador Darci Fonseca, fãs de faroestes, por exemplo, tiveram
que se desdobrar naquele mês de junho de 1954 para dar conta de assistir aos
lançamentos de tantas outras películas cinematográficas que estavam em todos os
cinemas das grandes capitais brasileiras, sem esquecer que muitos assistiram a
"Os Brutos Também Amam" repetidas vezes.
Nos
anos 80 o jornal a Folha de São Paulo
abrigava então alguns dos principais jornalistas brasileiros e o caderno
“ILUSTRADA” era leitura obrigatória para fãs de cinema com os textos de Ruy
Castro, Paulo Francis, José Trajano e tantos outros, todos pertencentes à
redação da Folha de S. Paulo quando foram consultados para a enquete que
indicaria os melhores faroestes de todos os tempos. Ruy Castro definiu esses
jornalistas dizendo serem todos eles “especialistas, críticos, “ratos de
cinemateca” ou ligados de alguma maneira à curtição cinematográfica”. Foi
solicitado a esses jornalistas fãs de
faroestes que indicassem listas contendo dez westerns dentro do critério
clássico que contaria dez pontos para o primeiro colocado, nove para o segundo
e assim por diante. POIS BEM!!! Os três primeiros colocados, pela ordem,
foram: OS BRUTOS TAMBÉM AMAM (Shane,
1953) – NO TEMPO DAS DILIGÊNCIAS (Stagecoach,
1939) – O HOMEM QUE MATOU O FACÍNORA (The
Man who Shot Liberty Valance, 1962).
Qualquer atento cinéfilo dos filmes de bang bang que tenha uma razoável percepção
não há como não ODIAR o título em português que foi dado aqui no Brasil, já
que o personagem de Ladd nada tinha de bruto. Todos os amantes dos filmes de cawboy “ranzinzas” são perfeccionistas... FAZER O
QUÊ?!?!?! Porém, Shane é Shane e o resto são filmes de faroeste que vêm depois
deste. Claro que temos outras jóias raras. Mas Shane foge à regra geral. OS BRUTOS TAMBÉM AMAM é um filme antológico, arte pura!!! Da música ao cão ator, uma emoção só, além de
deixar uma aura de mistério. Sem dúvida, um dos clássicos do cinema.
Em que pese ter sido rico e muito bem casado com SUE
CAROL, Alan Ladd tinha como companhia única a bebida da qual não se separava há
tempos. Em 1962 Alan Ladd foi hospitalizado após ter disparado um revólver
contra seu próprio corpo, perfurando um pulmão. A incoerente versão contada à
imprensa desmentindo a tentativa de suicídio só fez todos acreditarem que o
ator havia tentado mesmo se matar. Um ano e meio depois, em 28 de janeiro de
1964, Alan Ladd foi encontrado morto resultado de uma combinação fatal de
bebida e sedativos para dormir. Nunca se conseguiu apurar se houve outra
deliberada tentativa de suicídio ou se Alan não resistiu aos efeitos da mistura
e deu cabo de sua vida com apenas 50 anos de idade. Sua esposa, Sue Carol
permaneceu viúva pelo resto de sua vida, até falecer em 1982, aos 79 anos.
Todos que
conheceram Alan Ladd enalteceram sua simplicidade, tão grande quanto sua
insegurança, que carregou por toda a carreira. Alan Ladd pode não ter sido o
melhor dos atores, mas deixou alguns excelentes trabalhos em filmes memoráveis,
o principal deles, sem dúvida, “SHANE”- (OS BRUTOS TAMBÉM AMAM). Se pudesse,
Alan Ladd teria feito tudo diferente, como afirmou, mas será que sem ter sido
fruto do sistema do estrelato vivenciado na época seu nome seria lembrado até hoje?!?!?!
Difícil também dizer se ele não teria feito tudo diferente em sua vida pessoal
e aí também fica a certeza que sem sua
esposa, SUE CAROL não teria havido Alan Ladd. Assistam ao trailer de 3
minutos e vejam o elenco do
maior clássico western de todos os tempos com trilha sonora por Franck Pourcel
e orquestra
https://www.youtube.com/watch?v=BVri2m_2gC0
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