Jorge Oliveira
O
Temer jogou água no chope do Janot. Apesar de ter apresentado um
rosário de indícios que conduzem ao envolvimento do presidente ao crime
de corrupção passiva, o procurador-geral da República saiu chamuscado do
confronto. Ele agora terá que esclarecer que realmente não está
envolvido com o ex-procurador Marcelo Miller, homem de sua confiança,
que deixou o cargo para fazer os acordos de leniência da JBS do Joesley
Batista que, segundo o Temer, teria embolsado milhões de reais. É a
primeira vez que Janot é acusado frontalmente de favorecimento a Joesley
que, depois de confessar inúmeros crimes, saiu pela porta da frente da
procuradoria com o salvo conduto da impunidade.
O
embate entre o presidente e a procuradoria só favoreceu o Temer. Se não
vejamos: Janot distribuiu seu parecer que envolve o presidente em
corrupção passiva, papeis frios que chegaram à imprensa numa coletiva.
Temer usou a televisão ao vivo para soltar um míssil contra Janot que
vai destroçar a sua reputação e de seus procuradores caso ele não
esclareça melhor que não tem nenhum envolvimento com Marcelo Miller, o
procurador que deixou o cargo para trabalhar a soldo de Joesley e ajudar
a aprovar os acordos de leniência que favoreceram o grupo bilionário
dos Batista.
A
pergunta que fica no ar é a seguinte: como um procurador que chegou ao
cargo por concurso público deixa o emprego vitalício tão bem remunerado
para se engajar na causa dos Batista, levando com ele todos os segredos
das investigações? É no mínimo esquisito, não acha? Pois é, foi por
achar estranho que os assessores de Temer foram investigar o afastamento
do procurador e descobriram que ele não cumpriu nem a quarentena
determinada por lei para exercer outra função na iniciativa privada. E o
seu envolvimento com o Joesley, coincidentemente, aconteceu no momento
em que ele fazia a delação premiada que resultou em todo esse fuzuê.
O
lamaçal é geral. Tudo indica que dessa esculhambação generalizada não
se salva ninguém. Janot, no afã de denunciar o presidente antes de
deixar o cargo, não se preocupou com a retaguarda e agora deixa o órgão
na UTI. Esqueceu-se que o Temer também é do ramo jurídico, como advogado
e professor constitucionalista, e foi para o confronto sem as devidas
precauções de zelar pela entidade que dirige até então a mais respeitada
do país. Temer evidentemente, ao partir para o ataque, não estava
sozinho quando traçou a sua estratégia de encurralar Janot. Contou com
alguns simpatizantes dele dentro da Justiça que fazem oposição ao
trabalho do procurador, agora de saia justa.
No
seu parecer Janot parece ter vacilado, mesmo apresentando um rastro de
documentação que comprometeria o presidente. Não conseguiu juntar provas
de que o dinheiro da mala do ex-deputado Rodrigo Rocha Loures, assessor
do Temer, teria chegado às mãos do presidente. Usou a palavra “ilação”
para apoiar as suas denúncias. Temer aproveitou-se para fazer também uma
ilação entre Janot e o procurador afastado e acusá-lo de se envolver
com os milhões de reais que chegaram aos bolsos do seu ex-braço direito
pelo trabalho de leniência que favoreceu as empresas de Joesley. As
palavras de Temer, proferidas didaticamente, como um treinado professor,
ao vivo e a cores para o Brasil, chegaram como um tiro certeiro aos
ouvidos de Janot que se assustou com o petardo.
Na
réplica, Janot não foi convincente. Em nota oficial, detalhou a
trajetória de seu ex-assessor na procuradoria, mas só serviu para se
afundar mais ainda quando confirmou que realmente ele trabalhou nas
investigações da Lava Jato até deixar o cargo e se engajar na defesa de
Joesley. A situação se agrava ainda mais, quando se sabe que existe
outro procurador preso por ter sido flagrado como “homem” de informação
de Joesley dentro do órgão. Ou seja: o empresário contaminou todo mundo.
Comprou o Executivo, o Parlamento e a Justiça. Ninguém escapa das
garras afiadas de Joesley que se revela um dos mafiosos mais
estratégicos do mundo. Ele compra os poderes com o mesmo dinheiro que
sai dos cofres desses poderes com a conivência de quem dirige esses
poderes. Que coisa genial, hein!? É de deixar os sicilianos
nova-iorquinos com água na boca.
Os
crimes de Joesley ainda não estão perfeitos para um belo roteiro de
filme porque os Batista ainda não entraram no mundo das drogas, da
prostituição, das jogatinas e dos assassinatos por encomendas. Mas quem
viver, verá.
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