Reinaldo Azevedo
A exploração que se
faz da morte da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) é das coisas mais
asquerosas que vi desde que acompanho política. Virou um emblema de todos os
pensamentos tortos que infelicitam o país. Nunca, do ponto de vista dos
criminosos, um assassinato foi tão bem-sucedido. Aquele que puxou o gatilho e a
alvejou quatro vezes estava também abrindo a Caixa de Pandora das imposturas. NUNCA O CRIME ORGANIZADO ESCOLHEU UMA VÍTIMA COM
TANTA PRECISÃO E INTELIGÊNCIA. A precisão e a
inteligência do mal, que alimentam o festim diabólico do capeta.
Sim, há estupidez
para todos os gostos. É uma pena que não se possa chegar ao primeiro
delinquente que postou a foto de um casal como se fosse de Marielle em
companhia de Marcinho VP. Os dois nunca tiveram um relacionamento amoroso. Era
notícia falsa, “fake news”. A extrema-direita aproveitou para fazer barulho e
para expelir boçalidades, O QUE SÓ AÇULA A
DISPOSIÇÃO DAS ESQUERDAS DE CARREGAR O CORPO SIMBÓLICO DE MARIELLE COMO SE
FOSSE UM TROFÉU.
Morreu porque era
negra? Morreu porque era mulher? Morreu porque era lésbica? Morreu porque era
socialista? Morreu porque era favelada? NÃO! Morreu porque seus assassinos,
certamente contrários à intervenção, distinguiram nela o alvo perfeito.
Constatar tal evidência, à diferença do que dizem os papa-defuntos, não
corresponde a culpar Marielle por sua própria morte. Não fosse ela esse alvo
perfeito, seria outra pessoa. Era preciso mandar o recado.
Logo na minha
primeira manifestação a respeito, observei que se TENTARIA USAR O EVENTO TRÁGICO PARA RECRIAR A
BADERNA DE 2013, que, já escrevi
isto tantas vezes, foi deflagrada pela
extrema-esquerda. E, curiosamente, os extremistas vermelhos estão na raiz, ora
vejam!, da queda de Dilma Rousseff. Não custa lembrar: A DESORDEM COMEÇOU, ENTÃO, EM SÃO PAULO, SOB O
OLHAR CÚMPLICE DO GOVERNO FEDERAL PETISTA, QUE, INICIALMENTE, SILENCIOU SOBRE A
VIOLÊNCIA DOS MANIFESTANTES, E PREFERIU ATACAR A
POLÍCIA MILITAR DO ESTADO. O OBJETIVO ERA O
GOVERNO ALCKMIN. AQUELE TIRO SAIU PELA CULATRA.
E desta vez? Vamos
ver o que vão conseguir os COMPANHEIROS e CAMARADAS. A verdade é que, à
diferença do que dizem os exploradores de defuntos, a agenda de Marielle era
minoritária quando confrontada com o que pensa a população. A leitura política
que ela fazia dos mais de 6.300 assassinatos havidos no Estado em 2016 não
coincide, em absoluto, com a percepção que tem a maioria da população — e isso
inclui as mulheres, os negros, os favelados… O apoio à ação federal é maior
entre os mais pobres.
MARIELLE NÃO ERA UMA
CRÍTICA NOVATA DA VIOLÊNCIA POLICIAL OU DA AÇÃO DE FORÇAS FEDERAIS NO RIO. POR
QUE MATÁ-LA AGORA? PORQUE ERA PRECISO CONTURBAR O AMBIENTE PARA TENTAR PÔR FIM
À INTERVENÇÃO. NÃO VAI ACONTECER. MAS É CLARO QUE ISSO PÕE O GOVERNO SOB
PRESSÃO.
MAIS UMA VEZ, AS
ESQUERDAS E SETORES DA IMPRENSA BRINCAM COM FOGO. Qualquer pessoa sensata, a esta altura, receia
que aqueles que foram tão bem-sucedidos no investimento sanguinolento que
fizeram, dada a gritaria insana que objetivamente colabora com o banditismo —
seja o narcotráfico, as milícias ou a parcela bandida da polícia —, resolvam
dobrar a aposta. O Brasil não é a Colômbia de Pablo Escobar, mas certamente as
franjas do crime abrigam homicidas compulsivos daquela espécie. O facínora
ficou famoso por sobrepor um atentado a outro, de modo a mostrar, afinal, quem
estava no controle.
E, nestes dias
pós-morte de Marielle, nós já lemos e ouvimos de tudo. Os mais desavergonhados
não têm pejo nem mesmo de aproveitar o assassinato para resgatar a sua militância
em favor da discriminação das drogas, já que, segundo os perturbados, tudo isso
decorreria da ilegalidade das ditas-cujas. Claro! Com a legalização, os
criminosos iriam procurar emprego honesto, não é mesmo?
Não! Marielle não é
culpada por sua morte. Os culpados são os assassinos. MAS PARECE QUE HÁ
HUMORISTAS DO SANGUE ALHEIO DISPOSTOS A ENCONTRAR TAMBÉM OS RESPONSÁVEIS
MORAIS. NEM É PRECISO PROCURAR MUITO. Estão entre aqueles
que constituem o lado da demanda de que traficantes são a oferta. Essa perversa
lei do mercado não se esgota no bem-estar do consumidor e no lucro do
fornecedor. Essa relação produz cadáveres.
“Ah, mas o certo é
legalizar”. Digamos que fosse. A maioria da sociedade tem de ser convencida
disso, segundo os mecanismos oferecidos pela democracia. Enquanto isso não
acontecer, integrar ou não a cadeia do crime é uma escolha moral.
De resto, noto: em
2006, para a Justiça eleitoral entrar na favela da Maré, no Rio, que Marielle
conhecia bem, foi preciso apelar a blindados da Marinha porque o narcotráfico
havia decidido que tomaria conta das urnas…
É a esse tipo de
“liberdade” que estão submetidas outras pessoas também pobres, também negras,
também faveladas, eventualmente homossexuais ou socialistas… TRATA-SE DE UMA ESMAGADORA MAIORIA QUE DISSE “SIM”
À INTERVENÇÃO E QUE É CONTRÁRIA À LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS PORQUE CONHECE AS LEIS
DO CRIME ORGANIZADO. E não como
consumidora de droga. E não como fornecedora de droga.
São dias vergonhosos
estes!
Acho, se querem
saber, que a esquerda será malsucedida de novo em sua insanidade. “Ora,
Reinaldo, então não reclame!” É que meu ponto é outro. ESSE EMBATE DISTORCIDO, ENSANDECIDO E
OPORTUNISTA DEGRADA O PAÍS UM POUCO MAIS. E PÕE OS CRIMINOSOS NO CONTROLE DO
DEBATE E ATÉ DA AGENDA.
Nunca, para eles,
matar foi um argumento tão convincente.
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