domingo, 5 de abril de 2020

TREZE MENTIRAS CABELUDAS CONVENCEM MAIS DO QUE DOZE VERDADES CARECAS. SABIA?!?!?!



J.R.GUZZO

Vamos fazer, rapidamente, algumas contas. Até as 15h30 do sábado, 4 de abril, segundo os dados das secretarias estaduais de saúde divulgados pelo portal G1, tinham ocorrido no Brasil 377 mortes atribuídas à infecção pelo coronavírus em 9.391 casos de contágio computados desde o dia 15 de março — quando, pela primeira vez, houve o relato de cem episódios de infecção num período de 24 horas. Nos 21 dias passados desde então, segundo essas cifras, 18 pessoas morreram por dia, em média, em razão de doenças de várias naturezas que elas já tinham e voltaram a se manifestar após a infecção. Na Itália, o país mais afetado em todo o mundo — a China não conta: números de ditadura não valem nada —, foram 120 mil contágios e 14.770 mortos desde o dia 21 de fevereiro, quando começaram a fazer as contas. No meio, digamos, ficam os Estados Unidos: 277 mil infectados e cerca de 7,5 mil mortes postos na conta do coronavírus até o fim de semana.

De 377 mortos para 14.770, como na Itália, parece haver uma diferença e tanto, mesmo contando um mês a mais, lá, no período desde a eclosão da epidemia. Também não há comparação com os Estados Unidos e as 7.500 mortes que são atribuídas ao vírus ali. É certo que os Estados Unidos, com 330 milhões de habitantes, têm uma população bem maior que a do Brasil. Mas a população da Itália é quatro vezes menor — ou seja, não se vai longe, em matéria de clareza, com cálculos demográficos. É preciso notar, também, que o Brasil pode ter tido nestes últimos 21 dias muito mais casos que os 9 mil e tantos que estão nas estatísticas: as infecções aconteceram, mas não foram reportadas — até porque, possivelmente, muita gente pegou o vírus e nem percebeu.

Bom ou ruim? Nesses casos, ao que parece, as pessoas se curaram sozinhas, ficaram imunes e não podem mais contaminar ninguém. Como avaliar com mais precisão o significado dos números diante desses vazios de informação? Chama a atenção, também, a comparação bruta com a quantidade de gente que morre no Brasil — morre, simplesmente, pelos mais diferentes tipos de causa, o que faz bem pouca diferença do ponto de vista de quem morreu. Vamos ver, aí, como andam as coisas. Em dezembro último — ainda agora, portanto — o IBGE revelou que em 2018, o último ano sobre o qual tem números já fechados, morreram cerca de 1.300.000 pessoas no Brasil, ou 1.279.948, exatamente, para não se dizer que a cifra é exagerada. Isso dá uns 3.500 por dia — contra os 18 cujas mortes são lançadas na conta do coronavírus. De novo: não é a mesma coisa.

A verdade pode doer. Também pode fazer mal, e as duas coisas acontecem com frequência bem maior do que a gente imagina. Não há muito o que fazer quanto a isso. Sempre é melhor mostrar a verdade do que escondê-la — e muito melhor, ainda, do que mentir. Tudo certo, portanto, com a exibição diária, ou mesmo segundo por segundo, em tempo real, do número de mortes atribuídas ao coronavírus, ou covid-19, como estão fazendo as autoridades e a mídia. Naturalmente, porém, toda essa massa de cifras só tem valor se representar a realidade dos fatos; se não for assim, passa a ser apenas o contrário da verdade. E então: o que há de certo, de errado e de duvidoso nos números que você ouve a cada instante? Só há uma resposta honesta para essa pergunta: ninguém realmente sabe o que é fato, o que é falso e o que é chute.

Não tem nenhum propósito, é claro, proibir a divulgação dos números, sejam quais forem os seus teores de veracidade. Para começo de conversa, é ilegal — e aí já se chega também ao fim da conversa. Se não pode fazer, para que ficar discutindo o assunto? Isso aqui não é a China, tão admirada pela OMS e pelo mundo afora por sua admirável “gestão” da epidemia. Lá o governo eliminou números, prendeu médicos, sumiu com pesquisadores, destruiu laboratórios, suprimiu provas físicas da ação do vírus. Ficou, assim, com as estatísticas que bem entendeu e ainda por cima está se aproveitando do momento para exportar equipamento médico que não funciona.

Mas, embora sem essas facilidades, e por força dos nossos direitos constitucionais, que garantem a cada um a liberdade de publicar os números que quiser, também é certo que a mesma liberdade de expressão não impede ninguém de pensar a respeito das cifras divulgadas — e de questionar o seu real significado. Na verdade, é indispensável fazer isso, diante de uma realidade extremamente simples e objetiva: não há acordo, nem entre as autoridades encarregadas de cuidar da saúde pública, nem entre médicos, cientistas e pesquisadores, sobre a exatidão e a importância real das cifras publicadas. Se é assim, então temos uma questão ainda em aberto.

Em ciência não há duas verdades, nem a possibilidade de duas pessoas com posições opostas terem razão ao mesmo tempo. É o contrário do que se vê na situação brasileira de hoje. Temos uma dúzia de verdades diferentes — ou seja, não temos verdade nenhuma. O que existe é aquilo que os registradores de números, e a mídia que os divulga, dizem que existe. Não é o suficiente para a boa informação pública. Algarismos, apenas, podem dizer bem pouco, ou até mesmo nada, se não são comparados com outros. Uma cifra só significa alguma coisa quando está relacionada com realidades. É a velha história: 10% é pouco ou é muito? Depende: 10% sobre quanto? Só com todos os números pode haver alguma conclusão — e muitas vezes, mesmo com todos os números da matemática, não é possível se chegar à conclusão nenhuma.

Os números devem ser publicados, é claro. Mas todos eles.

Nenhum comentário: