quinta-feira, 10 de junho de 2021

JOHNNY GUITAR, UM FILME WESTERN FEMININO




d.matt


O que faz este filme western ser diferente? É que em lugar de dois homens, cowboys, ou bandido e mocinho, temos duas mulheres em plena disputa por território, como desculpa, pois na verdade fica subtendido que a disputa é também em grande parte por homens, alguns mocinhos rápidos no gatilho, outros fora da Lei, assaltantes de diligência e bancos. A disputa é mais aberta dentro da propriedade da "mocinha" a estrelíssima Joan Crawford , que se emboneca no ultimo estilo country, muito colorido e batom vermelho exagerado naquela bocarra muito conhecida do público. 


Na sua vestimenta de heroína western, não falta um revólver, laço vermelho usado como gravata e um esnobe desprezo para com os agitadores que desejam desalojá-la do seu falso Saloon, sempre vazio, com as roletas paradas por falta de jogadores e um mini bar sem qualquer originalidade e sem fregueses, na verdade tudo é falso e inverossímil naquele ambiente.


Porém.  subitamente, entra no recinto uma grande turma (sempre de preto ) de homens malvados, liderados por uma mulher vociferando acusações e tentando expulsar a nossa heroína,  proprietária do Saloon, bar, cassino, ou seja lá o que os redatores do script imaginaram. Tudo muito "Clean" e tão falso como uma nota de 3 dólares. 


Dá para entender que a vociferante "bandida" está P da vida porque um bandido da sua predileção assaltou uma carruagem e segundo ela, com a participação da mocinha Crawford. É tudo tão sem sentido que ficamos imaginando o porquê  deste filme. Cenários falsos desenhados e coloridos um tanto modernos, atores sem saber o que fazer ficam à parte assistindo o duelo verbal das duas mulheres, sem um sentido mais preciso. 


Os atores são bem escolhidos e de qualidade, além de Joan Crawford, temos a sua oponente Mercedes McCambridge, Sterling Hyden, o ator fordiano Ward Bond que não tem nada de importante a fazer no filme, temos John Carradine, e o verdadeiro alvo da disputa, o bandido Dancin'Kid interpretado pelo ator Scott Brady muito conhecido nos anos 50/60 pelos filmes western em que apareceu. Temos também o ótimo Ernest Borgnine com certo destaque. 


O enredo na verdade é precário, foi costurado sem grande profundidade e não tem muita credibilidade se for analisado com cuidado. A fotografia, esta sim, é de qualidade, principalmente pelo novo colorido em trucolor que pela primeira vez aparece com toda magnificência, belas cores internas  e principalmente externas. É para ressaltar, nessa fotografia as cenas do incêndio do Saloon ou cassino, que foi fotografado admiravelmente em vários ângulos, com uma beleza pictórica de grande qualidade. 


Ouso afirmar que este incêndio pode ser considerado o melhor já fotografado em qualquer filme, é feito de vários ângulos e impressiona pela grandiosidade e beleza das cenas. É digno de um prêmio importante.


O que dá maior destaque ao filme é a balada cantada pela grande cantora Peggy Lee. A música Johnny Guitar é de sua autoria, junto com o autor da trilha sonora Victor   Young é sensacional e creio que essa música foi responsável por esta película cinematográfica se tornar UM FILM CULT, pois um clássico ele não é. 


A propósito, cito aqui o comentário do grande cineasta Martin Scorcese sobre este filme: "JOHNNY GUITAR é exemplo de um filme pequeno, cultivado para atingir o estado de clássico. Não há nenhum outro filme como este  A direção de Nicolas Ray é neutra, sem sal, sente-se durante todo o filme a sua não veracidade, parece que as cenas foram filmadas ao acaso e depois montaram um filme com o que tinham em mãos”.  


Esse foi o segundo filme de Nicolas Ray, o primeiro foi um western "Paixão de Bravo" . As cenas externas são de uma pobreza incalculável, sem qualquer regionalismos western. Incluíram no filme, uma dezena de explosões de uma montanha,  sem o menor sentido, o que torna o filme cem por cento fora de foco westerniano, inclusive as cenas de perseguição noturnas que são mal feitas e sem nenhuma credibilidade, e ficamos pensando, qual foi a ideia central desse filme? 


O diretor  fica esbarrando em cenas sem saída e que parecem que foram criadas ao acaso. Uma pena o cast de ótimos artistas em um filme sem a menor criatividade original e o que parece, foi muito mal aproveitado. O filme foi um fracasso de crítica e de público quando do seu lançamento. 


Mais tarde, aos poucos foi se tornando um filme CULT, mas nunca um clássico. Foi reconhecido com "diferente" devido as duas mulheres disputar o domínio da região e duelarem no final, na clássica cena de confronto entre bandido e mocinho, só que desta vez são duas mulheres armadas e disputando, não quem é a mais rápida no gatilho, mas quem ganhará a parada e uma delas é derrotada no final. Na última cena, a vencedora fica aos beijos, em frente a uma queda d'águas. Uma cena inverossímil e desnecessária, que faz o diretor perder muitos pontos por essa bobagem na reta  final do western feminino, filmado no ano de 1954.  


PITACO DO BLOG CHUMBO GROSSO: - Em razão das mulheres não serem adeptas aos filmes de bang bang, cowboy ou faroeste, porém, esse é o tipo de filme que toda a ala feminina deveria assistir. Até porque,       ver um western protagonizado por duas mulheres é algo raro, haja vista que elas manipulam, mandam e desmandam, além de pintar e bordar com  todos os personagens do filme. A macharia baixa a crista quando as duas abrem o verbo e joga o vozeirão autoritário pra cima  dos barbados acabrunhados...

2 comentários:

d.Matt disse...

Caro amigo Altamir.

O seu PITACO logo após o texto desse filme, explica bem o que acontece quando
alguma coisa está fóra do contexto. Transformar belas ou apenas talentosas
atrizes em cowgirl não funciona, como demonstra o filme em questão. Além do mais, para
glamurizar a estrela Crawford, fizeram muitas adaptações no gênero, cenários, e outros itens,
e como foi dito acima, os atores machos ficaram calados e sem ação, servindo apenas como
" escada " qual palhaços de circo.

Este filme é lamentavel, e por incrivel que pareça, consta da lista dos 100 melhores
filmes americanos, e o clássico SHANE eles jogaram na privada do estúdio.



Grato pelo seus comentários no final dos meus artigos. O seu comentário além de muito
oportuno é também muito importante.

CÍCERO TAVARES DE MELO disse...

D.Matt.,

A análise de JOHNNY GUITAR, UM FILME WESTER FEMININO é de tirar o fôlego pela sinceridade do articulista.

JOHNNY GUITAR sem dúvida nenhuma é um “FILME CULT”, pela sua inverossimilhança, mas o roteiro é tão interessante que nos dar o prazer de está assistindo a um filme de José Mojica Marins, o louco que eternizou o “tharesh” e transformou o normal em loucura.

Parabéns, estimado amigo. Em cinema,quando ao amigo comenta a gente não precisa de assistir ao filme.