Não sei quando, mas penso que um dia o Brasil deixará de viver uma vida
emprestada; eu deixei, acho que era uma quinta-feira e fazia muito frio.
Enquanto isso não acontece, o tédio ou a ignorância quanto às próprias
referências entretém o país no exercício tolo de identificar o “Trump
brasileiro”. O título parece pender entre Jair Bolsonaro, Ciro Gomes e João
Doria. Mesmo com as críticas que faço a Trump, acho que a comparação com os
dois primeiros o desmerece e talvez a mistura dos brasileiros resulte numa
coisa próxima a ele. DORIA É DIFERENTE DOS TRÊS – é democrata, tem ideias arejadas
sobre economia, gestão pública e negócios e, apesar do bem-vindo destemor com
que peita a metafísica do mimimi e as estranhas catedrais de certos jornalismo
e mídia, da academia e de artistas, lida com elas sem a beligerância do presidente
americano.
Às vésperas das esvaziadas
manifestações do dia 26, o procurador Deltan Dallagnol, do Ministério Público
Federal, disse que a sociedade não poderia se acomodar; desculpe, não é que a
sociedade tenha se acomodado, mas os brasileiros de bem temos sido expostos a
revelações bombásticas diárias, até dos mesmos fatos, há mais de dois anos, com
anúncios sucessivos do fim do mundo, que criam uma expectativa de resolução
sempre adiada e tal frustração nos deixa, bem, frustrados. Por pequenas ou grandes
razões, mas repetidas e cansativas numa superestimulação que já mais ANESTESIA do que REVOLTA.
O juiz Marcelo Bretas, conhecido pelo rigor, liberou Adriana Ancelmo para prisão domiciliar, mas sem telefone fixo, internet e celular. Está pensando o quê? Quem manda ser ladrona e afundar um estado inteiro? E se reclamar, ficará também sem sobremesa. Bretas seguiu a lei, mas soam escarnecedoras as restrições, pois sabemos que elas não alcançam mulheres não usuárias de Van Cleef & Arpels (acho Harry Winston menos novo-rico) e não vigoram nem nas cadeias, que dirá no domicílio da Lurdinha. Detalhes como esses, na percepção dos brasileiros comuns que não somos analistas e/ou jornalistas, contribuem para esse fastio reforçado por grandes incógnitas como o fato de Renan Calheiros, O FIEL COMPARSA DOS PETISTAS ignorado por Rodrigo Janot na caça a Eduardo Cunha, continuar livre para reinar do alto de seus 11 (perdi a conta?) inquéritos.
Ainda, a Lava Jato condenou bandidos poderosos, mas o CHEFE DELES
CONTINUA CHAFURDANDO NA LIBERDADE e contando com a sobrevida política que o
clima de ninguém-presta dá àquele que jaz numa cova moral da qual jamais se
levantaria se o Ministério Público não fizesse política como Lula excretou num
ataque a Dallagnol: “O QUE AQUELE MOLEQUE CONHECE DE POLÍTICA?”. Dallagnol não é moleque, e sim
um procurador com currículo brilhante, mas o MPF fez política quando se
prostrou no Congresso forçando a aprovação daquelas dispensáveis 10 medidas e
quando anunciou a convicção de que Lula é o chefe do petrolão sem anunciar a
prisão dele. Sempre que o MPF leva a coisa para a arena política, o comandante
máximo da organização criminosa sorri. A BANDIDAGEM SERÁ PEGA PELO CÓDIGO PENAL, não pela ação política do MPF
que não deveria ser político. Aliás, de quantas das 10 medidas a instituição
precisou para as conquistas fabulosas da Lava Jato além de nenhuma? Nenhuma,
bastaram as leis existentes.
Sob o signo do ninguém-presta-na-política, a celeridade do cotidiano
talvez explique cogitar JOÃO DORIA PARA PRESIDENTE NO, APESAR DE TUDO,
LONGÍNQUO 2018. Claro que ele tem qualidades, não só na gestão em si da
complexa São Paulo, mas também na postura antipetista: sem medo de sujar o
suéter, mas poupando o ex-prefeito, o tucano bate em Lula como gente grande e em
todo o nefasto legado petista com a linguagem e o timing certeiros, num sinal
positivo de que já não se fazem mais tucanos como antigamente.
ANDO “FACINHA” E QUALQUER CANDIDATO QUE VENHA COM A CONVERSA DE ESTADO
MENOR (O QUE SEMPRE REDUZ AS OPORTUNIDADES DE CORRUPÇÃO) + EFICIENTE (MERA
OBRIGAÇÃO) = PAÍS MODERNIZADO, LEVA MEU VOTO PARA PRESIDENTE E TENHO, SIM,
SIMPATIA POR DORIA, COM ALGUMAS RESERVAS; também me agradam Ronaldo Caiado e a
senadora do PP-RS (o PP!) Ana Amélia. O deputado e a senadora têm maior
bagagem, enquanto Dória ainda precisa mostrar mais serviço. De todo modo,
parece que sem que o prefeito ou o PSDB planejassem, João Doria realiza o sonho
sonhado pelo PT com o imprestável Fernando Haddad: abrir caminho para o Palácio
do Planalto. Haddad era, no mínimo, o investimento (em mais de um sentido) do
PT para o Palácio dos Bandeirantes, inatingível na história do partido no
estado de São Paulo.
É prematura a empolgação em torno do nome de Doria, EMBORA
COMPREENSÍVEL, e tomara que se sustente, mas ele já contribuiu para o debate
com um discurso que inova por se aliar à ação. É da falta de governantes assim
que o país que presta se ressente; Temer que aproxima suas ações do discurso
segundo o qual valer-se-ia justamente da impopularidade, mas com o contrastante
apoio do Congresso, para fazer as reformas de que o Brasil precisa
dramaticamente, tem, ao contrário de Doria, a popularidade esmagada.
O que me parece injusto porque a base disso são os frutos maduros do
primitivismo da gestão petista que ainda tem algumas safras futuro a dentro,
enquanto ainda são menos do que broto as ações saneadoras da gestão Temer. Mas
não tem jeito, isso é percepção, também construída pela escolha do atual
governo em se calar quanto ao desastre que encontrou ao assumir.
Contudo, Temer é livre para ser impopular já que não é candidato a nada,
em vez disso, deve à nação trabalhar pelas reformas. Fui às ruas a favor do
impeachment porque estávamos submetidos a um gangsterismo de Estado, a um golpe
permanente descrito nos depoimentos dos comparsas do PT e a nação que presta
gostaria de ver na cadeia o criador e a criatura que o sustentaram, mas a LJ,
que ajuda a nos livramos de delinquentes que fazem da política um abrigo para
gozar a vida e atrasar a nossa, não resolve tudo: SEM AS REFORMAS, O PAÍS NÃO
ALCANÇARÁ O NOVO QUE TANTO ANSEIA, NÃO SE LIVRARÁ DESSA VIDA EMPRESTADA. ORA, A
REFORMA DA PREVIDÊNCIA É A ALTERNATIVA À QUEBRA DO SISTEMA; a política, com voto distrital
e financiamento privado de campanha, pode abrandar a crise de
representatividade e trazer racionalidade ao sistema eleitoral; a reforma
trabalhista iniciada com a lei da terceirização é a defesa do direito mais
precioso – o de trabalhar.
AS REFORMAS SÃO O ÚNICO CAMINHO para
deixarmos de levar essa vida emprestada de manuais caducos que combinam GETULISMO CAQUÉTICO, ESQUERDISMOS
DE ESPERTALHÕES MARICAS COM A VIDA GANHA, PRIVILÉGIOS ATRASADOS DO ESTÚPIDO
CAPITALISMO ESTADO-DEPENDENTE, ANTILIBERALISMO ROMBUDO,
COITADISMO-PASSIVO-AGRESSIVO E SALVACIONISMO PUERIL, TUDO NOS ATANDO ENTRE O
PASSADO E A REPETIÇÃO DELE FANTASIADA DE PRESENTE. Nossa carência de futuro
prefere antecipar candidatos para 2018 a olhar no olho do que temos hoje para o
rascunho do que virá: um país tão maltratado que encomenda o futuro a um prefeito
que governa há apenas 90 dias. (Fonte: Blog do Augusto Nunes)
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