Ricardo Noblat
A Suderj
informa: substituição no time do PT. Sai Lula, o retirante nordestino que sobreviveu
à seca e à miséria, também conhecido como “O Pai dos Pobres”, o “Messias do Rio
São Francisco” ou simplesmente “O Cara”, assim batizado no melhor de sua forma
física pelo ex-presidente americano Barack Obama.
Entra Luiz
Inácio Odebrecht da Silva, o garoto descoberto nas greves da região do ABC
paulista nos anos 80 do século passado pela maior empreiteira da América
Latina, próspero negociante de sua própria fama, e que ao aderir ao chamado
mundo da bola preferiu se apresentar sob a alcunha de “Metamorfose Ambulante”.
Ao fazê-lo,
forneceu todas as pistas para que afinal fosse decifrado, mas isso estava muito
acima da capacidade de compreensão dos seus contemporâneos. Lula, de há muito,
deixara de ser apenas um nome. Fora promovido à condição de sobrenome para
proteger sua numerosa família que passou a se beneficiar do seu sucesso
pessoal.
A história
de Luiz Inácio Odebrecht da Silva começou a ser contada quando o ministro Edson
Fachin, relator da Lava Jato, suspendeu o sigilo em torno das delações de executivos
da empreiteira que está no centro do maior escândalo de corrupção do mundo,
segundo o Departamento de Estado do governo dos Estados Unidos.
Segundo
Marcelo Odebrecht, ex-presidente da empreiteira, condenado e preso em Curitiba,
Lula chegou a registrar um saldo de R$ 40 milhões de reais em sua conta-propina
administrada pelo ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci. Desse total, Lula
sacou, no mínimo, R$ 30 milhões em dinheiro vivo de 2002 para cá.
Homem de
família – embora certa vez tenha se assustado com o boato de que havia fotos
suas em meio a uma farra em Manaus -, cuidou para que ela levasse a vida com
razoável conforto. Para o irmão que o iniciou nas artes da política, Frei
Chico, conseguiu que a Odebrecht lhe pagasse uma mesada mensal em troca de
nada.
Para seu
filho caçula, Luís Cláudio, que a Odebrecht financiasse seus negócios na área
do futebol americano. Foi a Odebrecht, ao seu pedido, que introduziu em Angola
a empresa de construção civil do seu sobrinho Taigara Rodrigues. A empresa,
ali, não foi bem-sucedida. Mas Taigara ganhou o seu pago pela Odebrecht.
Conforme
revelou Emílio Odebrecht, o patriarca da família com negócios em mais de 20
países, não foi Lula que pediu que a empreiteira reformasse em Atibaia o sítio
onde a família costumava repousar. Foi dona Marisa, mulher dele, que morreu
recentemente às turras com o marido e com medo da Lava Jato.
Mas quando
Lula recebeu Emílio no Palácio do Planalto no seu penúltimo dia como presidente
da República, Emílio apressou-se a dizer que a reforma do sítio ficara pronta.
Chamou-o de “chefe”, por hábito. Pensou que desmanchara a surpresa que Marisa
lhe reservara. Lula já sabia de tudo. Sempre soube.
Sabia também
que a Odebrecht comprara um terreno para abrigar a futura sede do Instituto
Lula (mais tarde Lula desistiu da ideia). E sabia que a Odebrecht tinha novos
planos para ele. O principal: carregá-lo pelo mundo como conferencista capaz de
lhe abrir novas portas de negócios. Pagaria por palestra o que ele cobrasse.
“Nosso
objetivo inicial foi conseguir um projeto que pudesse remunerar o ex-presidente
Lula, face o que ele fez durante muitos anos para o grupo. E que fosse de uma
maneira lícita, transparente”, delatou Alexandrino Alencar, ex-diretor da
Odebrecht. “Depois descobrimos que ele poderia nos ajudar em negócios no
exterior”.
Com todas as
despesas de viagens pagas pela Odebrecht, Lula passou a ganhar entre 150 mil a
200 mil dólares por palestra. Enriqueceu rápido. Só parou de fazer palestras
quando a Odebrecht entrou definitivamente no radar da Lava Jato. Por gentileza,
Emílio tratava-o de “chefe”. De fato, o chefe sempre foi Emílio.
A serviço de
Emílio, ainda no seu primeiro governo, por exemplo, Lula chegou a impedir que a
Petrobras comprasse ativos do Grupo Ipiranga para garantir que a Odebrecht, por
meio de uma subsidiária, continuasse hegemônica no setor de combustíveis.
Prejudicou a estatal. Mais tarde, a Odebrecht comprou o grupo.
Outro
exemplo: em 2007, no seu segundo governo, Lula foi acionado por Emílio para
resolver o problema criado pelo Ibama que se negava a dar uma licença ambiental
para a construção da hidroelétrica de Santo Antônio, no rio Madeira, obra da
Odebrecht. A licença não saía por conta de uma área de reprodução de bagres.
– Eu fui a
ele e disse: ‘O país precisa de energia e vai ser paralisado por causa do
bagre? O senhor precisa tomar uma decisão’ – delatou Emílio. Lula tomou – e a
licença saiu. O episódio marcou o início do enfraquecimento de Marina Silva no
cargo de Ministra do Meio Ambiente. Ela pediu demissão meses depois.
Emílio
conheceu Lula nos anos 70. Na época, a Odebrecht enfrentava uma greve geral no
Polo Petroquímico de Camaçari, na Bahia. “Ele (Lula) criou as condições para
que eu pudesse ter uma relação diferenciada com os sindicatos”, confessou
Emílio. Em Camaçari, despontou um líder sindical de nome Jaques Wagner.
“Lula pega
as coisas rápido. Ele percebe aquilo que tem a ver com intuição pura. É um
animal político, um animal intuitivo”, disserta Emílio, que sempre “apoiou
Lula” com conselhos e dinheiro. Ajudou-o na confecção da “Carta ao Povo
Brasileiro”, divulgada em 2002 para acalmar o mercado financeiro às vésperas da
eleição. FOI UMA RELAÇÃO PROVEITOSA PARA OS DOIS
ENQUANTO DUROU.
Nenhum comentário:
Postar um comentário